quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Carta ao Povo chamado Metodista - Um apelo a consciência do clero e laicato de boa vontade

Carta ao Povo chamado Metodista - Um apelo a consciência do clero e laicato de boa vontade. Há textos nas escrituras que possuem o poder de nos abalar. Dentre tantos deles, eu temo e tremo quando leio a seguinte orientação: "Abre a tua boca a favor do mudo, pelo direito de todos os que se acham desamparados. Abre a tua boca, julga retamente e faze justiça aos pobres e aos necessitados." (Provérbios 31:8-9) Ela mexe comigo, me perturba, me inquieta e tem movido minhas ações pastorais. A quem lê essa reflexão a pergunta que eu incomodamente faço é: a supracitada ordem bíblica não é tão importante e imperativas quanto essa que posto abaixo? Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; Ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém. - Mateus 28:19, 20. Por ser crítico a algumas posições sou taxado e preterido por alguns como um pastor metodista "fora da Visão", "inimigo do discipulado". Deus sabe o que creio e o que estamos implantando na comunidade sob meu pastoreio. Sou adepto da Visão Plena, aquela que lê a Bíblia com dois olhos, que enxerga e obedece a ela no tocante a fazer discípulos, mas que também enxerga e obedece a ela no tocante a ser sal, luz e fermento em meio a sociedade. O silencionismo diante dos males sociais se constitui em grave pecado diante de Deus. Na Igreja, clérigos e leigos que só se preocupam com o crescimento numérico, mas deixam de lado a vocação metodista revelada a Wesley de que fomos levantados por DEUS para “reformar a nação, de modo particular a Igreja, e espalhar a santidade bíblica sobre toda a terra”, estão em iniquidade diante de Deus, pois "quem sabe que deve fazer o bem e não o faz comete pecado ... (Tiago 4:17). Queremos e devemos fazer discípulos assim como Jesus e Paulo fizeram, todavia, não podemos nos esquecer do que Paulo registrou sobre o que ouviu dos Apóstolos de Jerusalém: "E conhecendo Tiago, Cefas e João, que eram considerados como as colunas, a graça que me havia sido dada, deram-nos as destras, em comunhão comigo e com Barnabé, para que nós fôssemos aos gentios, e eles à circuncisão; Recomendando-nos somente que nos lembrássemos dos pobres, o que também procurei fazer com diligência. - Gálatas 2:9,10" No dia 23 de fevereiro de 1791, pouco antes de sua morte, aos 87 anos de vida, Wesley escreveu a sua ultima carta. Ela foi endereçada a um parlamentar, um jovem de 31 anos, por nome William Wilberforce,que por conta de ter vivido uma impactante experiência com Deus, pensava em deixar a vida politica para se dedicar a vida religiosa. O homem que Deus usou para fazer tantos discípulos para Cristo havia acabado de ler um livro ("Gustavus Vasa") sobre um antigo escravo de Barbados, como era um cristão preocupado não só em ganhar almas, mas também em transformar a sociedade, John se sentiu inspirado a escrever para Wilberforce as seguintes palavras de exortação: “Caro senhor, a não ser que o poder divino o tenha alçado para ser um Atanásio contra mundum, não posso ver como poderá terminar Sua gloriosa empresa, opondo-se àquela execrável vilania, que é o escândalo da religião, da Inglaterra e da natureza humana. A não ser que Deus o tenha verdadeiramente erguido a essa obra, o senhor será consumido pela oposição dos homens e dos demônios. Mas se Deus for pelo senhor, quem lhe será contra? São eles todos juntos mais fortes que Deus? Não se canse de fazer o bem. Continue, em nome de Deus, e com a força do seu poder, até que a escravidão americana, a mais vil que já houve sob o sol, se desvaneça diante desse poder. Lendo esta manhã um tratado escrito por um homem africano, me impressionou muito a circunstância de o homem com a pele escura ser maltratado pelo homem branco e não ter o direito a reclamar justiça, uma vez que há uma lei em todas as nossas colônias afirmando que o juramento de um negro contra o de um branco de nada vale. Que vilania é essa! Que Aquele que lhe tem guiado desde sua juventude continue fortalecendo-lhe nessa e em todas as coisas. Essa é a oração de seu afetuoso servidor, John Wesley” No Brasil há 127 anos não mais há escravidão negra, todavia, devido a um processo de abolição mal feito, o qual em detrimento dos outra escravos, indenizou seus antigos senhores e deu subsídios para os europeus que ocupariam o lugar dos agora livres, mas desamparados, persiste um imenso fosso social, a desigualdade é gritante, e geradora de violência e maldição sobre o Brasil. A população negra e afrodescendente é maioria nos rankings de pobreza e chacinas, o negro é sempre tido como suspeito, eu mesmo já passei por várias situações constrangedoras com policiais e pessoas até mesmo na Igreja. Segundo sites confiáveis, "a cada dia 60 jovens negros são assassinados no Brasil. O dado é da Secretaria Nacional da Juventude da Presidência da República. A informação foi dada pelo secretário, Gabriel Medina, participante Comissão Parlamentar de Inquérito que investiga a violência contra jovens negros e pobres no Brasil. Há cinco dias atrás cinco jovens morreram na noite de sábado após serem baleados no carro em que estavam, na comunidade da Lagartixa, que fica no Complexo da Pedreira, em Costa Barros, na Zona Norte do Rio. De acordo com parentes, as vítimas tinham voltado de um passeio no Parque Madureira e resolveram sair novamente para fazer um lanche, quando foram surpreendidas pelas dezenas de tiros disparados por policiais militares do 41º BPM (Irajá) na Estrada João Paulo. O caso foi registrado na 39ª DP (Pavuna)." Não sou contra células, não sou contra retiros e encontros com Deus, não sou contra o discipulado bíblico e wesleyano, todavia, a meu ver, se o que está acontecendo em nossas Regiões, juntamente com o crescimento quantitativo não trouxer também os elementos abaixo listados por John Wesley, o que teremos nada mais será do que uma reprodução do neopentecostalismo, que gera crescimento denominacional, contudo, não opera transformação social. “Faça todo o bem possível, por todos os meios possíveis, de todos os modos possíveis, em todos os lugares possíveis, em todas as ocasiões possíveis, a todas as pessoas possíveis, tanto quanto for possível. - A excelência da sociedade para a Reforma dos costumes é…primeiro, mover campanha aberta contra toda a impiedade e injustiça, que cobrem a terra como num dilúvio, e isto é um dos meios mais nobres de confessar a Cristo. - “Todo projeto para refazer a sociedade, que não se importa com a redenção do indivíduo, é inconcebível… E toda doutrina para salvar os pecadores, que não tem o propósito de transformá-la em guardiã contra o pecado social é inconcebível”. Concluo afirmando que não sou 100% contra o Discipulado dentro da Visão Celular, sou sim, crítico de determinados pontos, enfases e extremos. Ser contra o discipulado é ser antibíblico, não ser favorável ao envolvimento com as transformações sociais igualmente o é. Penso que vale aqui o equilíbrio que emana desse conselho do Maior DISCIPULADOR de todos os tempos: Deveis, sim, praticar estes preceitos, sem omitir aqueles! - Mateus 23:23 Com todo respeito, amor e submissão a Palavra, de seu servo - Reverendo José do Carmo da Silva - mano Zé

domingo, 22 de dezembro de 2013

Os argumentos de Satanás para nos fazer pecar

Sermão do dia 22 de Dezembro de 2013

Texto bíblico: Gênesis 3

Contexto: Deus havia dado uma esposa idônea ao homem, além de autoridade para dominar sobre toda a terra e nomear toda a criação. Diante disso, surge uma figura chamado Satanás, em forma de serpente, e inicia um diálogo com Eva. O texto não mostra o tempo em que esse diálogo foi travado, mas talvez não tenha sido tudo no mesmo dia. O diálogo pode ter demorado semanas, meses e até mesmo anos. O que sabemos é que a mulher não consultou o marido para tomar a decisão, mas somente depois que já havia tomado, levando-o ao pecado, a fim de que partilhasse de sua condição de culpa. Para ela, houve dois momentos: o diálogo antes do pecado com a serpente e o diálogo com o marido depois do pecado. No primeiro, ela estava em dúvidas. No segundo, ela tinha certeza de que deveria convencer seu marido a cair no pecado, como ela fez. Talvez, as razões que a levassem a convencê-lo fosse: se Adão não cair no pecado, Deus irá me destruir e fazer outra esposa para ele. Preciso convencê-lo para que ele fique na mesma condição em que estou. Enfim, a mulher então convenceu o seu marido e ambos ficaram envergonhados com Deus e foram expulsos do jardim do Édem. Mas quais foram os argumentos utilizados por Satanás para convencer a mulher? Vejamos.

1º Argumento - Deus sabe que, quando comerdes, seus olhos se abrirão.
Texto: Satanás utiliza as coisas de Deus para nos fazer pecar. Na tentação de Jesus, ele utilizou-se a própria Bíblia para fazer Jesus pecar (Mt 4.6b). Quando ele disse: “Deus sabe”, usou um atributo de Deus (onisciência) para minimizar as consequências do pecado. A lógica das palavras de Satanás seria: “Se Deus sabe todas as coisas, Ele sabe que vocês poderão comer e, mesmo assim, Ele escolheu vocês, deu-lhes vida e autoridade sobre toda a criação. Além disso, quando vocês comerem, estarão indo além de si mesmos e poderão até julgar melhor”.
Dias de hoje: Satanás nos convence a permanecermos no pecado, dizendo-nos que o chamado de Deus é irrevogável e não há problemas em pecar; que Deus sempre irá nos perdoar, pois Ele é gracioso, e o pecado não acarretará consequências em nossas vidas.
Palavra de Deus: “A cobiça, depois de haver concebido, gera o pecado; e o pecado, já consumado, gera a morte (...) Não vos enganeis, toda boa dádiva e dom perfeito são do alto, do Pai, em quem não pode existir variação ou sombra de mudança (...) Porque a ira do homem não produz a justiça de Deus (...) Tornai-vos praticantes da Palavra, e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos” (Tg 1.15; 16; 20; 22).

2º - Argumento: “Você será como Deus, conhecedor do bem e do mal”.
Texto: Satanás induziu Eva a interpretar a Palavra de Deus do seu modo, mostrando-lhe que comer do fruto proibido poderia ser uma boa ideia, seja porque Deus lhe perdoaria no futuro ou mesmo porque aquilo lhe daria algum status e lhe traria conhecimento. O problema é que Adão e Eva já sabiam tudo o que lhes era necessário saber; eles tinham autoridade sobre todos os animais e toda a criação de Deus. E como Satanás ainda assim lhes convenceu? Mostrando-lhes o “novo”, o estranho e desconhecido.
Dias de hoje: A vontade de ser igual a Deus é autêntica de Satanás, e ele sempre nos tenta inspirado por esse sentimento. Essa vontade é “nova” diante dos filhos de Deus, pois Deus lhes faz inocentes, convictos de sua pequenez e dependência, como convém a filhos. Mas Satanás nos tenta com aquilo que não temos, mostrando-nos ilusões, prometendo-nos conhecimento. Sua intenção é nos levar à ingratidão com o que temos e recebemos de Deus, é nos fazer independentes de Deus. Ele intenta fazer com que a provisão e graça de Deus se tornem velhos e repetitivos em nossas vidas. Não é a toa que um músico atual disse: “eu prefiro ser uma metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre o mundo”. Esse é um típico pensamento satânico, que busca uma transformação incessante, perdendo por completo a identidade e o valor, a fim de não ser aquilo que Deus espera de nós. Por isso, Satanás nos seduz com novidades: casas, carros, dinheiro, bens materiais, cobiças, mulheres ou homens, conhecimento, etc.
Palavra de Deus: “Em tudo dai graças porque esta é a vontade de Deus”. “Feliz o homem que suporta a provação e a tentação com perseverança; porque, depois de ter sido aprovado, receberá a coroa da vida, a qual o Senhor prometeu aos que o amam” (Tg 1.12). “Entregue o seu caminho ao Senhor, confie nEle e o mais Ele fará”.

3º Argumento: “Você não vai morrer no dia em que comerdes”.
Texto: Como Satanás tinha certeza disso? Porque ele havia criado o pecado e a maldade e, todavia, não estava morto. Contudo, ele não disse à mulher que estava condenado.
Dias de hoje: Satanás tenta nos convencer que o pecado não gera morte nem traz consequências para nós. O argumento se baseia nele mesmo e nas pessoas que o servem. Por isso, umas das principais questões que os incrédulos fazem aos cristãos é: “Como Deus pode existir se há tanto sofrimento e pecado?”. E a principal conclusão é: não existe justiça! Mas tudo isso é gerado por Satanás que se utiliza do presente e das consequências que nós sofremos por causa dos nossos próprios pecados para dizer-nos: não há justiça. Ele é o pai do ceticismo e da dúvida. Por isso, seu prazer é questionar se há mesmo punição para os nossos pecados. Mas Deus nos disse que o pecado gera a morte.
Palavra de Deus: “Se confessares os vossos pecados, Ele é fiel e justo para te perdoar e te purificar de toda a injustiça” (I Jo 1.9). Aceite as provações que sobrevém à sua vida e ao mundo, clamando o socorro de Deus e resistindo a Satanás. “Sujeitai-vos a Deus, mas resisti ao diabo, e ele fugirá de vós. Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós. Purificai as mãos, pecadores, e vós que sois de duplo ânimo, limpai o coração. Afligi-vos, lamentai e chorai. Converta-se o vosso riso em pranto, e a vossa alegria em tristeza. Humilhai-vos na presença do Senhor, e Ele vos exaltará” (Tg 4.7-10).

Conclusão
Essa mensagem nos traz lições importantes: evitar a nossa individualidade longe de Deus; nunca evitar a Palavra de Deus nem mesmo no momento de descanso. Viver o tempo todo com Deus e depender dEle, além de depender dos seus familiares que Ele te deu, do seu cônjuge, sua igreja e seus amigos em Cristo. Tendo sempre o cuidado para não agir sozinho. Para isso, é preciso compartilhar as nossas dificuldades com os nossos irmãos. Enfim, tomar cuidado com os argumentos de Satanás para nos derrubar. Ele não é muito criativo em seus argumentos, sempre utiliza pressupostos idênticos e argumentos semelhantes. Na dúvida, espere em Deus e busque Sua ajuda, peça oração e confesse a Deus os seus pecados, pois Ele é fiel para te perdoar e te orientar.


terça-feira, 12 de novembro de 2013

Resposta ao texto "Por uma Teologia da Criação que supere os Fundamentalismos" de Claudio Ribeiro

          Ao ler esse texto, deparo-me com algumas questões que permanecem em minha mente desde os tempos da Faculdade de Teologia: Por que a necessidade de não ser “fundamentalista” (em sentido teológico)? O que é “fundamentalismo”?

          Em alguns pontos, Claudio Ribeiro disse que o fundamentalismo caracteriza-se por uma concepção de que a Bíblia é inerrante – supondo, às vezes, que essa concepção também incorra na interpretação literalista da Bíblia. Ademais, afirmou que há uma perspectiva escatológica milenarista que está por detrás do fundamentalismo. Apesar de não concordar com a relação entre inerrância bíblica e necessidade de leitura literal, não pretendo discutir tais temas agora. Aliás, basta observar a história do cristianismo para constatar diversos autores que, embora cressem na inerrância das Escrituras, não necessariamente consideravam que o melhor método de interpretá-la era a leitura literal. Também não explorarei a afirmação de que o fundamentalismo teológico tenha uma perspectiva escatológica milenarista, uma vez que grande parte dos pressupostos presentes nas críticas do autor revelam não ser somente o movimento "dispensacionalista" o alvo de sua crítica, mas o dogmatismo em geral. Com efeito, se se trata de uma crítica ao dogmatismo, tal critica extrapola os limites do recente movimento "fundamentalista" que levantou críticas ao "liberalismo teológico", mostrando também uma crítica à toda e qualquer forma de ortodoxia.

          De início, o autor diz “obviamente, não temos respostas acabadas para tais questões. Mesmo porque, se assim fizéssemos estaríamos incorrendo no mesmo equívoco que criticamos nas posturas de caráter fundamentalista”. Parece-nos que, aqui, fundamentalismo é entendido como aquela postura que formula respostas “acabadas” para determinadas questões. Aqui começa um entrave na leitura desse texto, uma vez que, não há ciência alguma que não tente responder, de modo bem delimitado, as questões a que se propõe pesquisar. O que seria uma resposta inacabada? A afirmação de que a “melhor” interpretação bíblica seja a kerigmática? Ou aquela que diz que o ser humano é co-criador com Deus? Será que a releitura, feita no texto, do pecado original não está claramente apontando que trata-se de uma interpretação mais adequada e melhor? As diversas críticas ao fundamentalismo, ao “maniqueísmo dualista” devem ser vistas como críticas “fortes” ou meras opiniões? Talvez o autor do texto pense: “minha fala está longe do fundamentalismo porque ela não pretende ser verdadeira, mas apenas uma opinião”. Todavia, se se trata apenas de opiniões, não há diálogo nenhum com as ciências, pois as ciências nunca pretenderam o senso comum ou a via das “opiniões”, ainda que a chamemos de “hermenêutica” ou interpretação.

          É muito comum, nos dias de hoje, travestir-se de “honestidade” e “respeito” afirmando que nossas ideias não passam de interpretações pessoais. O problema é que nenhuma interpretação divulgada pretende ser subjetiva, do contrário não intentaria convencer ninguém. As interpretações são sempre críticas a outras, fundamentadas por discursos “seguros”, que se supõem mais adequados e propícios à atualidade. Essa suposição de “atual”, acrescida às ideologias da “Vida”, da “liberdade” e da “tolerância”, faz com que o discurso induza-nos fortemente a pensar que encontramos a mais perfeita interpretação, isto é, a verdadeira.  Mas há quem diga: “não pode ser verdade! É apenas uma interpretação!”. Mas, se são críticas fortes, por que elas não estariam evocando um fundamento também “poderoso”, capaz de mostrar como se faz um bom diálogo com as ciências, capaz de criticar as velhas teologias e, ao mesmo tempo, criticar toda e qualquer ciência que considere inviável o diálogo com a teologia? Fundamento este que tem poder para destruir as mais fortes noções evolucionistas que, em sua maioria, afirmam que não é possível pensar em Deus e em evolução ao mesmo tempo, uma vez que a causa para a existência dos seres deve ser aleatória, como o é todo o processo de evolução.
 
          Contudo, os conhecidos autores do “evolucionismo teísta” tentam ganhar espaço numa comunidade científica cética afirmando que Deus está no controle do processo de evolução. Por sua vez, os teólogos evolucionistas, a fim de melhor romper com as fronteiras teológicas e científicas, afirmam: “pan-en-teísmo, isto é, Deus está/é em tudo e tudo está em Deus; Deus é o mistério que subjaz às coisas”. Diante de tais afirmações, outros teólogos e outros cientistas tentam requerer a validade do método científico e dos pressupostos teológicos, dizendo: “Deus não pode se confundir com as coisas, Ele é o criador, não uma criatura” (teólogos); “Se Deus é o acaso, Ele não é nada, apenas uma desculpa para o que ainda não foi explicado” (cientistas). Diante desse impasse, algumas outras tendências científicas e teístas surgem no horizonte das ciências biológicas, por exemplo: o design inteligente. Por ser crítico da evolução e mostrar que a evolução não passa de mais uma teoria entre outras, o chamado “evolucionismo teísta” infere: “não é ciência! É religião disfarçado de ciência!”. E os adeptos da nova teoria respondem: “Seria o evolucionismo teísta ciência? Seus conceitos sobre Deus são melhores e mais adaptados para que apenas o seu teísmo seja científico?”. Enfim, diante dessa longa discussão, teólogos e filósofos, lucidamente, ainda questionam se é necessário que as ciências positivas estejam no controle da Bíblia, dos valores morais e da Filosofia. É necessário forçar o diálogo com as ciências? Se sim, por que o evolucionismo e não o design inteligente?

          Pensemos numa coisa: foram os teólogos cristãos que decidiram não dialogar com as ciências ou o contrário? O protestantismo histórico desenvolveu-se junto com as revoluções industriais suscitando, segundo Weber, o próprio capitalismo. Os séculos XVII e XVIII mostraram cientistas famosos que jamais rejeitaram a Teologia. No início da modernidade, o diálogo entre cristianismo e ciências era intenso, basta observar obras de Descartes, Pascal, Malebranche, Berkeley, Leibniz, Newton e outros.  Inclusive, foram os ideais protestantes que trouxeram à tona a “Nova Ciência” e os princípios de igualdade, liberdade. Contudo, no século XIX, diversos cientistas, filósofos e economistas tentaram romper todos os laços com a religião: Darwin, Comte, Marx, Freud e outros. Com efeito, o divórcio ocorreu não por parte de teólogos protestantes, mas de cientistas e estudiosos que aderiram a filosofias céticas.

          Assim, o problema não era de ordem teológica ou epistemológica, mas um problema moral. É justamente aí que a Filosofia perde seu poder de influência dando lugar ao positivismo e ao pragmatismo irreversíveis cujos lemas principais eram: “superar o conhecimento teológico, superar o conhecimento metafísico e estabelecer o topo positivo” (Augusto Comte); “amadurecimento da sociedade para que ela não mais necessite de religião”.  Por outro lado, a ênfase na subjetividade também rompeu com a religião, uma vez que, sendo o homem a medida de todas as coisas, não há mais lugar para Deus. Com efeito, o divórcio entre a teologia e as ciências e filosofias contemporâneas não reside no fato de que as descobertas científicas e filosóficas mostraram que não há Deus, mas no fato de que a existência de Deus e, consequentemente, da Teologia, põem limites às pretensões idolátricas do conhecimento objetivo e subjetivo, isto é, a verdade de que Deus criou o Universo conduz evidências científicas e preceitos antropocêntricos ao precipício, uma vez que havendo Criador, não há mais criadores; havendo Deus, não há mais deuses; havendo Verdade, não há outras verdades humanas.


          Enfim, o problema da relação teologia e ciência não diz respeito ao diálogo, mas à preponderância. Se as ciências regem a hermenêutica bíblica, elas destroem o sentido da revelação tornado a Bíblia um livro entre outros. Se a Teologia rege a pesquisa científica, ela destrói o método e toda pretensão de objetividade das ciências. Na verdade, o suposto diálogo sempre consistirá em seleções ideológicas de “dados” ou “kerigmas” que melhor se adaptam a um discurso científico ou teológico trazendo, aos leigos e jovens teólogos, um maior valor e autoridade na “interpretação”, na retórica, na “vontade de poder” dos teólogos e dos cientistas. Em suma, evolucionismo teísta e teologia da evolução não passam de pretensões ideológicas e políticas que visam, por um lado, status e poder para os adeptos; por outro, escárnios e exclusão dos contrários. Basta acrescentar ainda um elogio de “aberto ao diálogo!”, “tolerante!” e “respeitoso!” para os discípulos e um xingamento de “fundamentalista!”, “violento!” e “intolerante!” para os críticos.

Como foi dito por Claudio Ribeiro, "há pressuposições antropológicas que relativizam as convicções fundamentalistas". Em outras palavras, o fundamentalista é sempre mau, violento e desumano (interpretação minha!)...


Texto completo de Claudio Ribeiro:

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

O sermão "Salvação pela fé" de Wesley e o contexto atual

John Wesley inicia o sermão “A salvação pela fé” mostrando, em dois termos chaves (graça e fé), o caminho de sua teologia soteriológica: “A graça é a fonte, a fé é a condição”. Em seu dizer, não há salvação que não advenha de Deus, e o único meio de acesso a essa salvação é a fé. Nisso consiste a herança protestante no pensamento de Wesley. Assim como em todos os protestantes históricos, a graça e a fé exercem primazia na teoria de salvação de Wesley. Por conseguinte, o autor questiona: Qual é a fé mediante a qual somos salvos? Sua resposta expõe seu método argumentativo que, geralmente, inicia com aquilo que não é o correto e, em seguido, explica sua compreensão bíblica do problema em questão. No caso da fé, Wesley rejeita três tipos de fé que, na sua concepção, não corresponde à verdadeira fé salvífica, a saber:  a fé dos pagãos, a fé dos demônios e a fé dos apóstolos antes da morte de Jesus.
Ao falar sobre a fé dos pagãos, Wesley já se põe a quilômetros de distância do liberalismo teológico atual e de qualquer tipo de teologia contextual e universalista. Obviamente, seria um anacronismo dizer que Wesley seria contra essas tendências teológicas, tendo em vista que ele não as conhecia em seu tempo. Contudo, a comparação entre Wesley e os deístas de seu tempo, interpretada à luz dos dias de hoje, mostra-nos claramente de que modo Wesley jamais aceitaria qualquer tipo de teologia que contrapõe-se aos princípios fundamentais da fé cristã e do protestantismo histórico, como por exemplo, a salvação pela graça mediante a fé.
Consideremos uma discussão de Wesley com os deístas de seu tempo. O Lord Huntington explicitou para Wesley que o único ponto em que eles se dividiam era a doutrina da expiação. Em resposta, Wesley disse: “é verdade que eu não posso compreender (...) mais do que o maior entendimento humano. Nossa razão fica confusa aqui. (...) Mas a questão é a seguinte: ‘O que diz a Escritura?’ Esta é a única considerada por mim. A Escritura diz: ‘Deus estava em Cristo reconciliando o mundo consigo’, que ‘Aquele que não conhecia o pecado foi feito oferta pelos pecados de todos nós’” (Carta de Wesley a Maria Bishop, VII, 297-299). Essa discussão nos mostra que Wesley não estava disposto a rejeitar os pontos fundamentais das Escrituras em função de qualquer filosofia ou ciência humanas, nem mesmo para favorecer seu diálogo com os deístas de seu tempo. Com efeito, seria melhor não se adaptar aos deístas do que unir-se em suas concepções, já que essa união significava separação de Cristo.
À luz dessa discussão de Wesley, podemos estabelecer uma releitura wesleyana supondo que uma teologia wesleyana jamais deve se inspirar em teologias deístas, teologias simbólicas – que consideram a vida, a morte e a ressurreição de Cristo como meros símbolos religiosos – e teologias contextuais – que utilizam o contexto histórico bem como seus pressupostos éticos, filosóficos e políticos como critério para a interpretação das Escrituras. No dizer de Wesley, aquele que não concebe a obra de Cristo não possui nem mesmo a fé dos demônios.
Por isso, a fé dos pagãos, para Wesley, é uma fé tipicamente cultural, que está mais interessada em cumprir deveres morais do que no conhecimento de Cristo. Essa fé não pode ser uma fé salvífica. Certamente a fé dos pagãos, como o próprio termo “pagão” indica, é superficial, que só se tem do lado de “fora” da fé cristã. Portanto, esse tipo de fé não serve para quem quer conhecer a Deus. Com efeito, não serve para nenhum tipo de teologia ou como princípio para um diálogo inter-religioso, como alguns o fazem nos dias de hoje. Qualquer frase do tipo: "o importante é a paz, a responsabilidade social, o amor ao próximo", "todas as religiões levam a Deus",  contraria ostensivamente os escritos de Wesley uma vez que desconsidera o que há de mais essencial e, ao mesmo tempo, peculiar ao cristianismo: a vida, a morte e a ressurreição de Jesus Cristo. 
O segundo tipo de fé abordado por Wesley é a fé dos demônios. Em seu dizer, os demônios conhecem bem que Deus é somente um e que Jesus Cristo é o Filho de Deus. Portanto, eles admitem a verdade das Escrituras e tremem diante do poder de Deus. Nota-se, pois, que os demônios estariam num nível de crença mais avançado do que os próprios pagãos, uma vez que essa crença se dirige à verdade racional sobre Deus e sobre Cristo. Ademais, o autor supõe que os demônios crêem que “toda Escritura foi dada por inspiração de Deus” (I, parágrafo 2). Contudo, a “fé” deles é meramente intelectual e racional, pois eles não podem experimentar a graça de Deus e o poder de Jesus Cristo.
Será que os demônios crêem mais em Deus e em Jesus Cristo do que muitas teologias modernas? Apesar deles serem os inspiradores dessas teologias, eles certamente crêem mais na inspiração de Deus do que os teólogos modernos e contemporâneos.
Não obstante, essa fé demoníaca é privilégio dos teólogos, que conhecem a Deus de ouvir falar e não têm nenhuma experiência com Ele. Não é a toa que as igrejas atuais estão "mortas", pois tentam convencer seus membros racionalmente de noções bíblicas conjecturais e até fundamentais, mas não crêem realmente que a fé em Jesus Cristo produz em nós uma sensação de perdão dos pecados, a experiência de sermos feitos filhos de Deus, nascidos do Pai. É por isso que a fé de muitos cristãos não é acompanhada de frutos do Espírito. Portanto, reafirmando as palavras de Wesley, uma fé que não possui a experiência da graça e da santificação não pode ser uma fé cristã.
O terceiro tipo de fé (ou crença) abordado por Wesley em seu sermão é a fé dos apóstolos antes da morte de Jesus Cristo. Em sua concepção, os apóstolos experimentaram o poder de Deus, viram milagres, testemunharam muitos sinais e abandonaram tudo para estar ao lado de Cristo, todavia, ainda assim não possuíam uma fé que os fizesse verdadeiramente salvos e cristãos. Ora, por que alguém que havia sido chamado pelo Mestre, experimentado os poderes dEle e ouvido Suas palavras não seria salvo? Simplesmente porque não haviam ainda experimentado o poder da morte e da ressurreição de Jesus Cristo e, portanto, não sabiam o que era ter os seus pecados perdoados. Wesley diz: nisso ela (a fé da salvação) difere daquela fé que os apóstolos nutriam enquanto nosso Senhor estava na terra: reconhece a necessidade e os méritos de sua morte e o poder de sua ressurreição” (I, parágrafo 5).
Que semelhança há entre essa fé dos apóstolos antes da morte de Jesus e a fé de muitos cristãos “espirituais” hoje? Há, com certeza, muita semelhança. Nos dias de hoje, há cristãos que conhecem os milagres de Cristo, receberam autoridade para expulsar demônios, curar enfermos e foram até chamados por Cristo, contudo, não priorizam a graça de Deus nem mesmo o poder da morte e da ressurreição de Cristo, pois pensam que sua salvação depende de obras, de méritos próprios, de fórmulas e métodos. Esses cristãos ou ainda não experimentaram o poder da morte e ressurreição de Jesus ou já estão desviando-se da “simplicidade do evangelho de Cristo”, assumindo para si preceitos humanos e negando o essencial da fé. Não é a toa que muitos hoje pensam estar debaixo de maldições hereditárias, de poderes malignos e de incertezas, pois não crêem no poder da morte e da ressurreição de Cristo. Portanto, qualquer doutrina e teologia que não priorizam a morte e a ressurreição de Cristo não pode ser ensinamento que conduz à salvação.
Wesley então questiona: “Qual é a salvação que é mediante a fé?”. Em resposta, diz: é uma salvação presente, não apenas futura. Consequentemente, não é apenas a vida eterna futura, mas a salvação do pecado e da culpa. O autor também sublinha que não se trata apenas da culpa de alguns pecados, mas de todos, alegando que “Cristo suprimiu a ‘maldição da lei, fazendo-se maldição por nós’. ‘Cancelou o escrito de dívida que era contra nós, levando-o e cravando-o na cruz’. ‘Agora não há, pois, condenação para os que crêem em Cristo Jesus’” (II, parágrafo 3). Ademais, é uma salvação do temor, pois os crentes passam a ter paz com Deus e com o Senhor Jesus Cristo; salvação do poder do pecado e da culpa inerente ao pecado; do próprio pecado e da vontade de pecar. Por isso, o autor diz: “Esta é, pois, a salvação pela fé, mesmo no mundo presente: a salvação do pecado e das consequências do pecado (...) implica na libertação da culpa e do castigo, pela propiciação de Cristo (...), e do domínio do pecado, mediante o mesmo Senhor, formado em seu coração. Assim, aquele que é justificado  é, na verdade, nascido de novo” (II, parágrafo 7).

Nos parágrafos seguintes, Wesley tenta mostrar que a salvação pela fé não é uma pregação contra a santidade e as boas obras. É aqui que Wesley mostra a peculiaridade de seu pensamento diante do protestantismo histórico, tanto na vertente calvinista quanto luterana, uma vez que afirma a necessidade da santificação como parte do caminho da salvação. Há duas questões levantadas por Wesley, a saber: se falar da santidade e da fé não incitaria os homens ao orgulho e se falar aos homens dessa fé não incitaria os homens ao pecado. Em resposta à primeira questão, Wesley diz que isso pode acontecer acidentalmente, porém os crentes verdadeiros devem ter em mente as palavras dos apóstolos sobre o orgulho. Sobre a segunda questão, o autor diz que muitos tentarão utilizar a graça para continuar no seu pecado, contudo, o seu sangue será sobre a sua cabeça, uma vez que a bondade de Deus deve leva-los ao arrependimento. Uma objeção que poderia se levantar contra esse tipo de pensamento, segundo Wesley, seria: se o homem não pode ser salvo depois de tudo quanto fizer ou possa fazer, isso o levará ao desespero. Wesley responde que certamente o levará à desesperança de ser salvo por suas próprias obras, uma vez que aquele que tenta estabelecer sua própria justiça não pode receber a justiça que vem de Deus. Wesley também diz que essa crítica é inspirada por satanás, pois este supõe que a doutrina de Cristo seja desoladora, ao invés de tranquilizadora. Contudo, o autor afirma que essa doutrina é cheia de conforto, já que mostra a esperança total na misericórdia de Deus. Afirma também que o fundamento de toda a pregação cristã está na salvação pela fé, ainda que os católicos insistam em não pregar sobre isso e divulgar seu papismo. Em contrapartida, a doutrina da salvação pela fé é capaz de manter todo e qualquer papismo à distância.
Enfim, a salvação pela fé pregada por Wesley não é mais uma doutrina do cristianismo, mas constitui-se como o cerne da fé cristã, mesmo diante da oposição de alguns católicos e de religiosos que colocavam as obras no lugar da fé em Jesus Cristo.  Com efeito, o cerne da fé cristã não era constituído daquilo que havia de comum em todas as igrejas que carregavam o nome "cristão", mas da própria mensagem de Cristo e dos apóstolos que explicitamente anunciavam o Evangelho como a mensagem da morte e ressurreição de Jesus Cristo que nos lava de todo o pecado e nos dá a vida eterna. Essa mensagem não era desesperadora, como alguns insistiam, mas a razão de nossa esperança em Deus.  

sábado, 21 de setembro de 2013

Fique atento!

Fique atento ao Blog Aletheia. Convidamos os leitores e críticos do Blog para uma discussão sobre o batismo infantil.

Você concorda com o batismo infantil?

Dê sua opinião sobre os artigos que abordaram o tema!

Mais uma breve reflexão sobre o batismo

Resenha da Carta Pastoral sobre os sacramentos (Carta Pastoral da Igreja Metodista).

Nome: Guilherme Estevam Emilio – Ponto Missionário da Igreja Metodista em Sumaré.

Carta Pastoral sobre os Sacramentos

Introdução
Diante de um cenário religioso diferente do contexto em que viveu João Wesley, a Igreja Metodista, por meio do Colégio Episcopal (2001), decidiu elaborar uma Carta Pastoral sobre os Sacramentos. Num contexto em que poucos evangélicos sabem o que significa “sacramento”, quais são os dois sacramentos protestantes que se mantém na tradição protestante e quais os demais sacramentos católicos que não se mantiveram, fez-se necessário orientar a Igreja Metodista sobre o assunto.
Os protestantes concebem os sacramentos como “sinais visíveis da graça invisível de Deus”. Sinais esses de uma obra que já foi feita por Jesus e que, quando atualizada por nós e em nós, traz à tona símbolos concretos de sua concreta existência.
A problemática da Carta Pastoral, relevada em nosso contexto, consiste no fato de que muitos pentecostais e neopentecostais tem nos criticado por duas razões simples: a) porque batizamos crianças; e b) porque aceitamos as três formas de batismo. Para eles, crianças não podem ser batizadas, e o batismo só pode ser válido se feito por imersão. Isso porque eles estão inseridos numa tradição anabatista e batista que considera que a criança não tem fé para ser batizada e, ao mesmo tempo, é demasiadamente pura para ser regenerada e purificada. Como se sabe, os batistas crêem que no ato do batismo acontece a própria regeneração e que, para se batizar, é necessário, antes, confissão de pecados e arrependimento. Isso nos põe diante de um impasse, pois, para os protestantes históricos, a graça de Deus precede o batismo, e a mudança de vida sucede o batismo; não o contrário, como defendiam os anabatistas.
Essa discussão entre anabatistas e pedobatistas existe há muitos séculos e até hoje perdura. Por um lado, alguém diz que o batismo é a própria regeneração e que para ser regenerado é necessário confessar os pecados ao Senhor Jesus; por outro, diz-se que o batismo é sinal de graça, e não a própria regeneração, que deve ser realizado naqueles que participam do Corpo de Cristo e do Reino de Deus. Afinal, o que os metodistas têm a dizer diante dessa controvérsia?

1 A posição Metodista sobre o batismo
De saída, os autores da Carta Pastoral expõem que o batismo, na nova aliança em Cristo, substituiu o sinal de pacto com Deus que a circuncisão representou no Antigo Testamento: “Nele também fostes circuncidados, não por intermédio de mãos, mas no despojamento do corpo da carne, que é a circuncisão de Cristo; tendo sido sepultados juntamente com Ele no Batismo, no qual igualmente fostes ressuscitados mediante a fé no poder de Deus que o ressuscitou dentre os mortos” (Cl 2.11-12). Esse argumento, apesar de não constar essa informação na carta pastoral, fora um argumento importante utilizado por Calvino em suas Institutas para convencer os anabatistas da Suiça a adotarem o pedobatismo. Calvino compreendia que a mudança de vida sucede o batismo, e não o contrário, como defendiam os anabatistas.
Os batistas de hoje insistem que, caso o argumento da circuncisão seja rejeitado, já não temos mais razões para cremos no batismo infantil. No entanto, a Igreja Metodista elaborou um importante documento mostrando uma série de argumentos favoráveis ao batismo infantil. Ademais, a igreja também argumentou em favor da pluralidade de formas de batismo.
Segundo os Cânones da Igreja Metodista, “o Batismo é sinal visível da graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual nos tornamos participantes da comunhão do Espírito Santo e herdeiros da vida eterna”. Ele é realizado “com água, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, com aspersão (aplicando água com a mão sobre a cabeça do batizando), derramamento (com ambas as mãos, derrama-se água sobre a cabeça do batizando, estando este, geralmente, com parte do corpo dentro da água) e imersão (o batizando é submergido na água). Com efeito, a Igreja Metodista reconhece como válido as três formas de batismo.
A Carta Pastoral sobre os sacramentos divide-se em dois momentos, a saber: a parte sobre o batismo e a parte sobre a Ceia do Senhor. Veremos, contudo, apenas a parte sobre o batismo.
A)    Batismo no Antigo Testamento

1.                  As águas eram utilizadas, no Antigo Testamento, nos rituais de purificação de pecado, ex.: o banho que o sacerdote tomava no lugar santo antes de oferecer holocausto (Lv.16.15-28).
2.                  Ezequiel diz que toda a cidade de Jerusalém, inclusive crianças e mulheres, deveria ter sido lavada com água para a purificação, quando ela foi conquistada pelos judeus.
3.                  Uma família purificada não aceitava nenhum membro impuro, seja criança ou escravo. E, portanto, todos deveriam ser purificados.
4.                  Havia três exigências àquele que adentrava à comunidade judaica: a circuncisão, o batismo e a oferta de sacrifício. Isso começou no período pós-exílico.
5.                  O Talmud, um dos principais documentos judaicos que discute as leis da Torah, alega que as pessoas eram batizadas na infância, antes dos doze anos, com autorização dos pais e da sinagoga.

B)    Batismo no Novo Testamento

1.      Os primeiros convertidos, em Atos, levavam toda sua família para ingressarem na fé cristã. Lídia, por exemplo, foi batizada com toda a sua casa (At 16.15); o carcereiro se converte e todos os seus são batizados (At 16.33).
2.      Na Igreja em Corinto, Estéfanes e sua casa foram batizados por Paulo. Ademais, Crispo e toda a sua família também o foram (At 18.8).

C)    Principal argumento batista
As crianças não podem exercer uma pessoal em Jesus Cristo, aceitando-o como Senhor e Salvador, e por isso não devem ser batizadas. Texto bíblico: Marcos 16.16: “Quem crer e for batizado será salvo; quem não crer será condenado”.
D)    Objeções Metodistas
O texto pode ser usado para falar sobre o batismo infantil? Não, pois Jesus está se referindo a adultos que ouvem, entendem e rejeitam o Evangelho, não se trata de crianças.
E o que Jesus fala sobre as crianças?
“Deixai vir a mim os pequeninos, não os embaraceis porque dos tais é o Reino de Deus” (Mc 10.13). Essa afirmação de Jesus mostras que as crianças são membros do Reino de Deus e, além disto, padrão para ingresso no Reino. Por isso, Jesus disse: “Qualquer que receber, em meu nome, uma criança tal como esta, a mim me recebe”.
Questão: Diante disso, perguntamos como Pedro o fez aos seus companheiros na casa de Cornélio: “Porventura pode alguém recusar a água, para que sejam batizados estes que, assim como nós, receberam o Espírito Santo?” (At 10.47). Com efeito, como negar o batismo às crianças quando Jesus declara que delas é o Reino? Não é o batismo um ritual simbólico de iniciação na comunidade do Reino de Deus: a Igreja?
Além dessas questões levantadas na Carta Pastoral, poderíamos fazer muitas outras objeções. O texto bíblico de João 3.18 diz que quem não crê em Jesus já está condenado, referindo-se ao presente. Se entendermos que a criança não é capaz de crer em Jesus, nesse caso, também deveríamos considerá-la condenada, já que julgamos que ela não crê o suficiente para ser batizada. No entanto, como alguém que não crê pode ser portadora do verdadeiro louvor a Deus? Parece que o argumento batista tira o sentido das palavras de Jesus sobre as crianças, deixando a entender que elas são piores do que aqueles que têm melhor capacidade de compreensão. Será que a fé depende da compreensão ou a compreensão depende da fé? Segundo a tradição protestante, a fé é dom de Deus, pois: “pela graça somos salvos por meio da fé, isso não vem de vós, é dom de Deus” (Ef 2.9).
Enfim, não há sentido em negar um sacramento a uma criança pela fato dela não poder compreender a graça de Deus, já que:
a) a compreensão não significa fé verdadeira;
b) não podemos delimitar a idade certa que uma criança está apta a compreender;
c) não temos subsídios bíblicos para delimitar o ano que a criança poderá ser batizada, pois a Bíblia não proíbe o batismo infantil;
d) há mais elementos bíblicos favoráveis ao batismo infantil do que contrários;
e) o batismo de Jesus – exemplo usado pelos batistas – foi realizado somente quando ele tinha 30 anos e, portanto, não se deve batizar antes dos 30, quando se utiliza esse tipo de argumento;
f) o batismo de Jesus não deveria ser para purificação dos pecados, já que Jesus não tinha pecados, mas para cumprir a Lei.
g) Ao imitarmos a mãe de Jesus apresentando uma criança ao Senhor, deixamos de imitá-lo integralmente, pois Jesus foi circuncidado também ao oitavo dia e nem por isso devemos nos circuncidar.
Diante disso, dificilmente poderíamos sustentar qualquer argumento batista que tentasse utilizar a Bíblia para negar o batismo infantil, pois, como já mostramos, há muitos textos que, implicitamente, supõem o batismo infantil ao dizer que “todos da sua casa foram batizados”. Caso contrário, a Bíblia teria sido clara, especificando aqueles aos quais deveríamos negar o batismo ou colocando alguma oração coordenada adversativa.
A Igreja Metodista, com efeito, assume oficialmente que é favorável ao batismo infantil e, no que diz respeito à forma do batismo, reconhece como válido o batismo por aspersão, por derramamento e por imersão.

2.     Argumento Batista e contra-argumento Metodista
Os imersionistas baseiam-se no sentido da palavra grega “baptizo” que quer dizer “imergir”. Argumentam também que a narrativa do Batismo de Jesus, que diz “no rio Jordão” e “ao sair da água” indica que o batismo foi imersão. Se admitirmos esse argumento, seremos obrigados a crer que tanto o batizando como o oficiante deveriam, ambos, imergirem, tomando por base o relato do batismo do eunuco por Felipe (At 8.38), pois o texto diz que “ambos desceram às águas” e que “ambos saíram das águas”. Ora, se isto quer dizer que o Eunuco foi mergulhado, então Felipe também mergulhou. Com efeito, cada fez que o oficiante celebrar um batismo deverá também imergir juntamente com o batizando.
A força desse argumento favorável somente à imersão está no sentido do nome grego. No entanto, a palavra grega baptizo tem diferentes usos e sentidos na Bïblia, como por exemplo em Lc 11.37-39, que faz referência à lavagem cerimonial das mãos e dos pés; em Mc 7.1-7, referindo-se à lavagem de copos, jarros e vasos; em I Co 10.2, em que Paulo descreve a passagem dos filhos de Israel pelo mar como sendo um batismo na nuvem e no mar. No entanto, a lavagem de jarros, das mãos e dos pés é um tipo de lavagem, não uma imersão. Ademais, os judeus atravessaram o mar com pés secos, como diz o texto de Êx 14.29. Com efeito, parece evidente que o uso bíblico do termo “baptizo” não tem sentido de imersão. E, portanto, não basta apenas utilizar o significado do termo para defender uma forma exclusiva de batismo, pois o próprio termo, quando usado na Bíblia, aponta para outras formas.
No Antigo Testamento, o batismo era um símbolo de purificação de pecado e poderia ser feito também por aspersão (Jo 2.6). No Novo Testamento, quando foram batizados três mil pessoas em Jerusalém, numa região onde a água era escassa e proveniente de poços, dificilmente as pessoas teriam sido batizadas por imersão.
 Wesley afirma: “pela lavagem, imersão ou aspersão, porque a Escritura não determina qual destes meios ser usados, quer por preceito expresso, quer por um exemplo claro que o provê, quer ainda pela força ou pelo significado da palavra batizar...” (Coletânea da Teologia de João Wesley, p.273).
3.     Contra-argumento protestante
Para Lutero, o batismo é o grande testemunho da salvação pela graça. Nos Catecismos Maior e Menor e na obra chamada Cativeiro Babilônico, Lutero apresenta didaticamente como se deve batizar as crianças e os argumentos revelando que Deus aprova o batismo infantil. Lutero diz que não é a fé que confere eficácia ao ato batismal, mas a Palavra de Deus. Ele se opõe aos entusiastas que condicionam a eficácia batismal à fé e argumenta: “... se eu não creio, segue-se que Cristo nada é...”, neste sentido ele antepõe a própria fé, a revelação de Deus em Cristo e a graça sem as quais não haveria no que se crer, e mostra que o batismo é um sinal visível da graça de Deus.
4.      A responsabilidade dos pais e da igreja para com as crianças

A Carta Pastoral termina essa primeira parte sobre o batismo afirmando que os pais e a igreja local devem assumir a responsabilidade e o compromisso de zelar pela vida espiritual das crianças que são batizadas.

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Uma Defesa do Batismo Infantil

Rev. Francisco Belvedere Neto 

Tenho reparado no meio metodista uma resistência grande de muitos pais em batizar os seus filhos. Muitos dizem que preferem que os filhos “escolham” no futuro. Mas seria isso uma posição coerente com a de pais cristãos? Na verdade o que está por trás disso é o forte discurso anabatista do evangelicalismo brasileiro. Classifico como “anabatista”, por utilizar os argumentos do grupo da reforma radical que se opunha ao batismo infantil, negando a natureza sacramental do batismo e afirmando que este era e apenas para os que crêem. Essa posição era antagônica ao posicionamento dos principais reformadores que sempre reconheceram ser bíblica e histórica a pratica do batismo infantil.
O fato é que a postura dos que podemos assim chamar de “credobatistas”, ou seja, que só aceitam o batismo de crentes (já que chamá-los de anabatistas seria um anacronismo), é uma postura apologética e proselitista. Ou seja, além de polemizarem e defenderem arduamente a questão, se empenham em tratar de “converter” os outros ao seu ponto de vista.  Muitos por  terem pouco ou nenhum conhecimento do assunto, acabam cedendo ou ficando em dúvida.  Vamos ver alguns argumentos dos credobatistas contra o batismo infantil:

1. Crianças não podem ser batizadas porque não podem crer.

Esse argumento é geralmente baseado em  Marcos 16.16:  Quem crer e for batizado será salvo; quem, porém, não crer será condenadoQuem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado.
     Bem, se interpretarmos esse texto dessa maneira, então teremos que chegar a conclusão de que todas as crianças que morrem estão condenadas ao inferno, pois elas não têm condições de exercer fé pessoal em Jesus como seu Senhor e Salvador pessoal. Então, alguém há de argumentar, que está escrito em Lucas 18.16,17: Mas Jesus, chamando-os para si, disse: Deixai vir a mim os meninos, e não os impeçais, porque dos tais é o reino de Deus. Em verdade vos digo que, qualquer que não receber o reino de Deus como menino, não entrará nele.
Por isso mesmo, podemos e devemos batizar as crianças. Elas são mais dignas de receberem o sacramento do batismo do que um adulto. Excluí-las do batismo pelo fato de elas não crerem, implica em excluí-las da salvação também.
No antigo testamento a circuncisão simbolizava uma aliança com Deus. Deus disse a Abraão: Genesis. 17.10- 14  Esta é a minha aliança, que guardareis entre mim e vós, e a tua descendência depois de ti: Que todo o homem entre vós será circuncidado.
E circuncidareis a carne do vosso prepúcio; e isto será por sinal da aliança entre mim e vós. O filho de oito dias, pois, será circuncidado, todo o homem nas vossas gerações; o nascido na casa, e o comprado por dinheiro a qualquer estrangeiro, que não for da tua descendência. Com efeito será circuncidado o nascido em tua casa, e o comprado por teu dinheiro; e estará a minha aliança na vossa carne por aliança perpétua. E o homem incircunciso, cuja carne do prepúcio não estiver circuncidada, aquela alma será extirpada do seu povo; quebrou a minha aliança.
Notemos que a circuncisão era uma aliança que se fazia com Deus. E quem não se submetesse a ela seria punido, por quebrar a aliança. É interessante notar o paralelo feito entre a circuncisão e o batismo: Colossenses. 2.11,12: No qual também estais circuncidados com a circuncisão não feita por mão no despojo do corpo dos pecados da carne, a circuncisão de Cristo; Sepultados com ele no batismo, nele também ressuscitastes pela fé no poder de Deus, que o ressuscitou dentre os mortos.
Assim como a circuncisão era símbolo da inclusão na antiga aliança, o batismo tornou-se o símbolo da inclusão na nova aliança. As crianças, filhas dos israelitas, já eram incluídas, por ordem do próprio Deus, na aliança, mesmo sem poder escolher se queriam ou não, ser incluídas na aliança. Se as crianças eram incluídas na antiga aliança, não há razão para afirmar que elas estejam excluídas da nova, sendo que está firmada em maiores promessas. Hebreus 8:6  Mas agora alcançou ele ministério tanto mais excelente, quanto é mediador de uma melhor aliança que está confirmada em melhores promessas
Vale a pena citar o um trecho de um ótimo artigo do Reverendo John P. Sartelle, pastor da Independent Presbyterian Church in Memphis - TN  em que ele faz uma comparação bastante coerente entre a circuncisão e batismo:
  “Considere as seguintes três perguntas à luz dos capítulos precedentes:
  1. Quando uma pessoa cria no Deus de Abraão e confiava nEle no Antigo Testamento, o que acontecia? Ele era circuncidado.
  2. Qual era o símbolo externo que representava o coração limpo no Antigo Testamento? Circuncisão.
  3. Qual era o sinal externo que marcava a entrada de uma pessoa na comunidade de crentes do Antigo Testamento? Circuncisão.
 Agora, deixe-me fazer as mesmas perguntas substituindo as palavras "Antigo Testamento " por  " Novo Testamento ":
  1.  Quando uma pessoa cria no Deus de Abraão e confiava nEle no Novo Testamento, o que acontecia? Ele era batizado.
  2. Qual era o símbolo externo que representava o coração limpo no Novo Testamento? Batismo.
  3. Qual era o sinal externo que marcava a entrada de uma pessoa na comunidade de crentes do Novo Testamento? Batismo.” [1]
2. Crianças não podem ser batizadas porque não tem como se arrepender.

Esse argumento é bastante falho, pois geralmente confunde-se o batismo de João com o batismo cristão. Estamos tratando de duas instituições diferentes.  O batismo de João era um batismo temporário, que preparava as pessoas para a vinda do Messias, aquele que batizaria com o Espírito Santo e com fogo.  Tanto é que Paulo rebatizou pessoas que haviam recebido apenas o batismo de João Atos 19:1-5: E sucedeu que, enquanto Apolo estava em Corinto, Paulo, tendo passado por todas as regiões superiores, chegou a Éfeso; e achando ali alguns discípulos, Disse-lhes: Recebestes vós já o Espírito Santo quando crestes? E eles disseram-lhe: Nós nem ainda ouvimos que haja Espírito Santo.Perguntou-lhes, então: Em que sois batizados então? E eles disseram: No batismo João. Mas Paulo disse: Certamente João batizou com o batismo do arrependimento, dizendo ao povo que cresse no que após ele havia de vir, isto é, em Jesus Cristo. E os que ouviram foram batizados em nome do Senhor Jesus.  Portanto o batismo de arrependimento era o batismo de João e não o batismo cristão. O batismo cristão é a inclusão da pessoa na nova aliança e consequentemente na comunidade de fé. Pelo batismo uma pessoa se entrega a Cristo para ser seu discípulo, ou seja, aprender e praticar os ensinamentos do mestre e segui-lo pelo resto de sua vida. Assim também as crianças são entregues a Cristo pelo batismo, para desde cedo serem seus discípulos. Quando o ministro asperge água sobre (ou derrama, mergulha) o batizando em nome da Santíssima Trindade, ele está declarando que tal pessoa pertence ao povo de Deus. E o mesmo vale para as crianças, que segundo o próprio Senhor, já lhe pertencem.

3. O argumento da livre escolha

Um dos argumentos mais utilizado por pais que não querem batizar os filhos, geralmente utilizado para disfarçar sua relutância em aceitar o batismo infantil, é de que desejam que o filho tome sua própria decisão quando tiver entendimento. Não vejo como esse argumento pode ser coerente com pais que levam a sério o propósito de terem toda a sua casa a serviço do Senhor. Buscam escolher a melhor escola para os filhos, a melhor alimentação, as melhores roupas, os melhores médicos nos momentos de enfermidade, mas a religião, que é o principal querem que o filho escolha?  Isso é tão incoerente quando se negar a orar por um filho recém nascido que esteja enfermo porque ele não pediu a oração ou porque não tem consciência suficiente para crer nela.  Josué 24.15 eu e a minha casa serviremos ao SENHOR. E o batismo infantil se enquadra no principio desse versículo.  Quando alguém batiza seus filhos está dizendo: “Eu e a minha casa pertenceremos ao Senhor”.

4. A Bíblia não menciona batismos de crianças.

            Depois de expormos o conteúdo acima, é natural que surja  como objeção que na Bíblia não vemos nenhuma criança ser batizada, mas antes, somente pessoas que entendiam e criam no evangelho. Mas, será mesmo que isso é assim?  Primeiramente cabe considerar que os apóstolos com freqüência batizavam famílias inteiras. Como por exemplo Lídia e sua casa (Atos 16.15) e o carcereiro de Filipos e os seus (Atos 16.33). E um dado interessante: “A primeira versão do Novo Testamento, denominada Peshita Siríaca, publicada logo após a era apostólica, traduz At 16:15 da seguinte maneira : “Ela (Lídia) foi batizada e as crianças de sua casa[2]Se não se pode afirmar que tinha crianças entre eles, não também não se tem subsídios para se dizer o contrário. Porém, me chama atenção um detalhe no discurso de Pedro no dia de pentecostes. Atos 2, 38, 39:  E disse-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para perdão dos pecados; e recebereis o dom do Espírito Santo; Porque a promessa vos diz respeito a vós, a vossos filhos, e a todos os que estão longe, a tantos quantos Deus nosso Senhor chamar.
A Palavra grega aqui traduzida como: filhos é  teknia,. Que significa: filho pequeno ou simplesmente: crianças. Temos aqui mais uma evidencia clara de que o batismo de crianças é válido.

Conclusão

            Dificilmente um judeu piedoso do século I, aceitaria a idéia de firmar um pacto com Deus e não incluiria seus filhos nessa aliança.  O batismo infantil se harmoniza tanto com o significado do batismo, quanto com testemunhos bíblicos favoráveis a prática e também existe o testemunho histórico. Esse assunto, apesar das diversas interpretações que se desenvolveram sempre  foi um ponto comum e pacifico entre a a grande maioria dos cristãos na história. Tanto é que nesse ponto, até mesmo o herético Pelágio,  afirmou no Século IV:“Difama-se como se eu negasse o sacramento do Batismo às crianças. Jamais ouvir dizer, nem mesmo de um herético ímpio, que as crianças não devem ser batizadas. Pois não há ninguém tão ignorante a ponto de ter tal opinião”[3]. Imagino a reação dele se assistisse alguns pregadores que abundam nos canais de televisão, berrando frases do tipo: “ A Bíblia não ensina o batismo de crianças...!”  Bem antes dele, no século II, Justino Mártir já havia declarado: Cristãos de ambos os sexos, alguns de 60, outros de 70 anos de idade se tornaram discípulos pelo Batismo desde a infância”
            O batismo infantil tem sido alvo de muitas controvérsias. Eu poderia aqui citar outros documentos antigos, além de teólogos e reformadores. Mas creio que essas poucas linhas, servem para mostrar que temos respaldo Bíblico e Histórico para Batizar Crianças. Pois se as crianças, são cidadãs do Reino de Deus, conseqüentemente da igreja invisível, porque deveríamos excluí-las da igreja visível?





[1]SARTELLE, John P. http://www.ipcb.org.br/paisdevemsaber.html
[2]RODRIGO, Gecyone.  http://www.ejesus.com.br/exibe.asp?id=272
[3] RODRIGO, Gecyone.  http://www.ejesus.com.br/exibe.asp?id=272