sábado, 21 de setembro de 2013

Mais uma breve reflexão sobre o batismo

Resenha da Carta Pastoral sobre os sacramentos (Carta Pastoral da Igreja Metodista).

Nome: Guilherme Estevam Emilio – Ponto Missionário da Igreja Metodista em Sumaré.

Carta Pastoral sobre os Sacramentos

Introdução
Diante de um cenário religioso diferente do contexto em que viveu João Wesley, a Igreja Metodista, por meio do Colégio Episcopal (2001), decidiu elaborar uma Carta Pastoral sobre os Sacramentos. Num contexto em que poucos evangélicos sabem o que significa “sacramento”, quais são os dois sacramentos protestantes que se mantém na tradição protestante e quais os demais sacramentos católicos que não se mantiveram, fez-se necessário orientar a Igreja Metodista sobre o assunto.
Os protestantes concebem os sacramentos como “sinais visíveis da graça invisível de Deus”. Sinais esses de uma obra que já foi feita por Jesus e que, quando atualizada por nós e em nós, traz à tona símbolos concretos de sua concreta existência.
A problemática da Carta Pastoral, relevada em nosso contexto, consiste no fato de que muitos pentecostais e neopentecostais tem nos criticado por duas razões simples: a) porque batizamos crianças; e b) porque aceitamos as três formas de batismo. Para eles, crianças não podem ser batizadas, e o batismo só pode ser válido se feito por imersão. Isso porque eles estão inseridos numa tradição anabatista e batista que considera que a criança não tem fé para ser batizada e, ao mesmo tempo, é demasiadamente pura para ser regenerada e purificada. Como se sabe, os batistas crêem que no ato do batismo acontece a própria regeneração e que, para se batizar, é necessário, antes, confissão de pecados e arrependimento. Isso nos põe diante de um impasse, pois, para os protestantes históricos, a graça de Deus precede o batismo, e a mudança de vida sucede o batismo; não o contrário, como defendiam os anabatistas.
Essa discussão entre anabatistas e pedobatistas existe há muitos séculos e até hoje perdura. Por um lado, alguém diz que o batismo é a própria regeneração e que para ser regenerado é necessário confessar os pecados ao Senhor Jesus; por outro, diz-se que o batismo é sinal de graça, e não a própria regeneração, que deve ser realizado naqueles que participam do Corpo de Cristo e do Reino de Deus. Afinal, o que os metodistas têm a dizer diante dessa controvérsia?

1 A posição Metodista sobre o batismo
De saída, os autores da Carta Pastoral expõem que o batismo, na nova aliança em Cristo, substituiu o sinal de pacto com Deus que a circuncisão representou no Antigo Testamento: “Nele também fostes circuncidados, não por intermédio de mãos, mas no despojamento do corpo da carne, que é a circuncisão de Cristo; tendo sido sepultados juntamente com Ele no Batismo, no qual igualmente fostes ressuscitados mediante a fé no poder de Deus que o ressuscitou dentre os mortos” (Cl 2.11-12). Esse argumento, apesar de não constar essa informação na carta pastoral, fora um argumento importante utilizado por Calvino em suas Institutas para convencer os anabatistas da Suiça a adotarem o pedobatismo. Calvino compreendia que a mudança de vida sucede o batismo, e não o contrário, como defendiam os anabatistas.
Os batistas de hoje insistem que, caso o argumento da circuncisão seja rejeitado, já não temos mais razões para cremos no batismo infantil. No entanto, a Igreja Metodista elaborou um importante documento mostrando uma série de argumentos favoráveis ao batismo infantil. Ademais, a igreja também argumentou em favor da pluralidade de formas de batismo.
Segundo os Cânones da Igreja Metodista, “o Batismo é sinal visível da graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual nos tornamos participantes da comunhão do Espírito Santo e herdeiros da vida eterna”. Ele é realizado “com água, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, com aspersão (aplicando água com a mão sobre a cabeça do batizando), derramamento (com ambas as mãos, derrama-se água sobre a cabeça do batizando, estando este, geralmente, com parte do corpo dentro da água) e imersão (o batizando é submergido na água). Com efeito, a Igreja Metodista reconhece como válido as três formas de batismo.
A Carta Pastoral sobre os sacramentos divide-se em dois momentos, a saber: a parte sobre o batismo e a parte sobre a Ceia do Senhor. Veremos, contudo, apenas a parte sobre o batismo.
A)    Batismo no Antigo Testamento

1.                  As águas eram utilizadas, no Antigo Testamento, nos rituais de purificação de pecado, ex.: o banho que o sacerdote tomava no lugar santo antes de oferecer holocausto (Lv.16.15-28).
2.                  Ezequiel diz que toda a cidade de Jerusalém, inclusive crianças e mulheres, deveria ter sido lavada com água para a purificação, quando ela foi conquistada pelos judeus.
3.                  Uma família purificada não aceitava nenhum membro impuro, seja criança ou escravo. E, portanto, todos deveriam ser purificados.
4.                  Havia três exigências àquele que adentrava à comunidade judaica: a circuncisão, o batismo e a oferta de sacrifício. Isso começou no período pós-exílico.
5.                  O Talmud, um dos principais documentos judaicos que discute as leis da Torah, alega que as pessoas eram batizadas na infância, antes dos doze anos, com autorização dos pais e da sinagoga.

B)    Batismo no Novo Testamento

1.      Os primeiros convertidos, em Atos, levavam toda sua família para ingressarem na fé cristã. Lídia, por exemplo, foi batizada com toda a sua casa (At 16.15); o carcereiro se converte e todos os seus são batizados (At 16.33).
2.      Na Igreja em Corinto, Estéfanes e sua casa foram batizados por Paulo. Ademais, Crispo e toda a sua família também o foram (At 18.8).

C)    Principal argumento batista
As crianças não podem exercer uma pessoal em Jesus Cristo, aceitando-o como Senhor e Salvador, e por isso não devem ser batizadas. Texto bíblico: Marcos 16.16: “Quem crer e for batizado será salvo; quem não crer será condenado”.
D)    Objeções Metodistas
O texto pode ser usado para falar sobre o batismo infantil? Não, pois Jesus está se referindo a adultos que ouvem, entendem e rejeitam o Evangelho, não se trata de crianças.
E o que Jesus fala sobre as crianças?
“Deixai vir a mim os pequeninos, não os embaraceis porque dos tais é o Reino de Deus” (Mc 10.13). Essa afirmação de Jesus mostras que as crianças são membros do Reino de Deus e, além disto, padrão para ingresso no Reino. Por isso, Jesus disse: “Qualquer que receber, em meu nome, uma criança tal como esta, a mim me recebe”.
Questão: Diante disso, perguntamos como Pedro o fez aos seus companheiros na casa de Cornélio: “Porventura pode alguém recusar a água, para que sejam batizados estes que, assim como nós, receberam o Espírito Santo?” (At 10.47). Com efeito, como negar o batismo às crianças quando Jesus declara que delas é o Reino? Não é o batismo um ritual simbólico de iniciação na comunidade do Reino de Deus: a Igreja?
Além dessas questões levantadas na Carta Pastoral, poderíamos fazer muitas outras objeções. O texto bíblico de João 3.18 diz que quem não crê em Jesus já está condenado, referindo-se ao presente. Se entendermos que a criança não é capaz de crer em Jesus, nesse caso, também deveríamos considerá-la condenada, já que julgamos que ela não crê o suficiente para ser batizada. No entanto, como alguém que não crê pode ser portadora do verdadeiro louvor a Deus? Parece que o argumento batista tira o sentido das palavras de Jesus sobre as crianças, deixando a entender que elas são piores do que aqueles que têm melhor capacidade de compreensão. Será que a fé depende da compreensão ou a compreensão depende da fé? Segundo a tradição protestante, a fé é dom de Deus, pois: “pela graça somos salvos por meio da fé, isso não vem de vós, é dom de Deus” (Ef 2.9).
Enfim, não há sentido em negar um sacramento a uma criança pela fato dela não poder compreender a graça de Deus, já que:
a) a compreensão não significa fé verdadeira;
b) não podemos delimitar a idade certa que uma criança está apta a compreender;
c) não temos subsídios bíblicos para delimitar o ano que a criança poderá ser batizada, pois a Bíblia não proíbe o batismo infantil;
d) há mais elementos bíblicos favoráveis ao batismo infantil do que contrários;
e) o batismo de Jesus – exemplo usado pelos batistas – foi realizado somente quando ele tinha 30 anos e, portanto, não se deve batizar antes dos 30, quando se utiliza esse tipo de argumento;
f) o batismo de Jesus não deveria ser para purificação dos pecados, já que Jesus não tinha pecados, mas para cumprir a Lei.
g) Ao imitarmos a mãe de Jesus apresentando uma criança ao Senhor, deixamos de imitá-lo integralmente, pois Jesus foi circuncidado também ao oitavo dia e nem por isso devemos nos circuncidar.
Diante disso, dificilmente poderíamos sustentar qualquer argumento batista que tentasse utilizar a Bíblia para negar o batismo infantil, pois, como já mostramos, há muitos textos que, implicitamente, supõem o batismo infantil ao dizer que “todos da sua casa foram batizados”. Caso contrário, a Bíblia teria sido clara, especificando aqueles aos quais deveríamos negar o batismo ou colocando alguma oração coordenada adversativa.
A Igreja Metodista, com efeito, assume oficialmente que é favorável ao batismo infantil e, no que diz respeito à forma do batismo, reconhece como válido o batismo por aspersão, por derramamento e por imersão.

2.     Argumento Batista e contra-argumento Metodista
Os imersionistas baseiam-se no sentido da palavra grega “baptizo” que quer dizer “imergir”. Argumentam também que a narrativa do Batismo de Jesus, que diz “no rio Jordão” e “ao sair da água” indica que o batismo foi imersão. Se admitirmos esse argumento, seremos obrigados a crer que tanto o batizando como o oficiante deveriam, ambos, imergirem, tomando por base o relato do batismo do eunuco por Felipe (At 8.38), pois o texto diz que “ambos desceram às águas” e que “ambos saíram das águas”. Ora, se isto quer dizer que o Eunuco foi mergulhado, então Felipe também mergulhou. Com efeito, cada fez que o oficiante celebrar um batismo deverá também imergir juntamente com o batizando.
A força desse argumento favorável somente à imersão está no sentido do nome grego. No entanto, a palavra grega baptizo tem diferentes usos e sentidos na Bïblia, como por exemplo em Lc 11.37-39, que faz referência à lavagem cerimonial das mãos e dos pés; em Mc 7.1-7, referindo-se à lavagem de copos, jarros e vasos; em I Co 10.2, em que Paulo descreve a passagem dos filhos de Israel pelo mar como sendo um batismo na nuvem e no mar. No entanto, a lavagem de jarros, das mãos e dos pés é um tipo de lavagem, não uma imersão. Ademais, os judeus atravessaram o mar com pés secos, como diz o texto de Êx 14.29. Com efeito, parece evidente que o uso bíblico do termo “baptizo” não tem sentido de imersão. E, portanto, não basta apenas utilizar o significado do termo para defender uma forma exclusiva de batismo, pois o próprio termo, quando usado na Bíblia, aponta para outras formas.
No Antigo Testamento, o batismo era um símbolo de purificação de pecado e poderia ser feito também por aspersão (Jo 2.6). No Novo Testamento, quando foram batizados três mil pessoas em Jerusalém, numa região onde a água era escassa e proveniente de poços, dificilmente as pessoas teriam sido batizadas por imersão.
 Wesley afirma: “pela lavagem, imersão ou aspersão, porque a Escritura não determina qual destes meios ser usados, quer por preceito expresso, quer por um exemplo claro que o provê, quer ainda pela força ou pelo significado da palavra batizar...” (Coletânea da Teologia de João Wesley, p.273).
3.     Contra-argumento protestante
Para Lutero, o batismo é o grande testemunho da salvação pela graça. Nos Catecismos Maior e Menor e na obra chamada Cativeiro Babilônico, Lutero apresenta didaticamente como se deve batizar as crianças e os argumentos revelando que Deus aprova o batismo infantil. Lutero diz que não é a fé que confere eficácia ao ato batismal, mas a Palavra de Deus. Ele se opõe aos entusiastas que condicionam a eficácia batismal à fé e argumenta: “... se eu não creio, segue-se que Cristo nada é...”, neste sentido ele antepõe a própria fé, a revelação de Deus em Cristo e a graça sem as quais não haveria no que se crer, e mostra que o batismo é um sinal visível da graça de Deus.
4.      A responsabilidade dos pais e da igreja para com as crianças

A Carta Pastoral termina essa primeira parte sobre o batismo afirmando que os pais e a igreja local devem assumir a responsabilidade e o compromisso de zelar pela vida espiritual das crianças que são batizadas.

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