sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Uma Defesa do Batismo Infantil

Rev. Francisco Belvedere Neto 

Tenho reparado no meio metodista uma resistência grande de muitos pais em batizar os seus filhos. Muitos dizem que preferem que os filhos “escolham” no futuro. Mas seria isso uma posição coerente com a de pais cristãos? Na verdade o que está por trás disso é o forte discurso anabatista do evangelicalismo brasileiro. Classifico como “anabatista”, por utilizar os argumentos do grupo da reforma radical que se opunha ao batismo infantil, negando a natureza sacramental do batismo e afirmando que este era e apenas para os que crêem. Essa posição era antagônica ao posicionamento dos principais reformadores que sempre reconheceram ser bíblica e histórica a pratica do batismo infantil.
O fato é que a postura dos que podemos assim chamar de “credobatistas”, ou seja, que só aceitam o batismo de crentes (já que chamá-los de anabatistas seria um anacronismo), é uma postura apologética e proselitista. Ou seja, além de polemizarem e defenderem arduamente a questão, se empenham em tratar de “converter” os outros ao seu ponto de vista.  Muitos por  terem pouco ou nenhum conhecimento do assunto, acabam cedendo ou ficando em dúvida.  Vamos ver alguns argumentos dos credobatistas contra o batismo infantil:

1. Crianças não podem ser batizadas porque não podem crer.

Esse argumento é geralmente baseado em  Marcos 16.16:  Quem crer e for batizado será salvo; quem, porém, não crer será condenadoQuem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado.
     Bem, se interpretarmos esse texto dessa maneira, então teremos que chegar a conclusão de que todas as crianças que morrem estão condenadas ao inferno, pois elas não têm condições de exercer fé pessoal em Jesus como seu Senhor e Salvador pessoal. Então, alguém há de argumentar, que está escrito em Lucas 18.16,17: Mas Jesus, chamando-os para si, disse: Deixai vir a mim os meninos, e não os impeçais, porque dos tais é o reino de Deus. Em verdade vos digo que, qualquer que não receber o reino de Deus como menino, não entrará nele.
Por isso mesmo, podemos e devemos batizar as crianças. Elas são mais dignas de receberem o sacramento do batismo do que um adulto. Excluí-las do batismo pelo fato de elas não crerem, implica em excluí-las da salvação também.
No antigo testamento a circuncisão simbolizava uma aliança com Deus. Deus disse a Abraão: Genesis. 17.10- 14  Esta é a minha aliança, que guardareis entre mim e vós, e a tua descendência depois de ti: Que todo o homem entre vós será circuncidado.
E circuncidareis a carne do vosso prepúcio; e isto será por sinal da aliança entre mim e vós. O filho de oito dias, pois, será circuncidado, todo o homem nas vossas gerações; o nascido na casa, e o comprado por dinheiro a qualquer estrangeiro, que não for da tua descendência. Com efeito será circuncidado o nascido em tua casa, e o comprado por teu dinheiro; e estará a minha aliança na vossa carne por aliança perpétua. E o homem incircunciso, cuja carne do prepúcio não estiver circuncidada, aquela alma será extirpada do seu povo; quebrou a minha aliança.
Notemos que a circuncisão era uma aliança que se fazia com Deus. E quem não se submetesse a ela seria punido, por quebrar a aliança. É interessante notar o paralelo feito entre a circuncisão e o batismo: Colossenses. 2.11,12: No qual também estais circuncidados com a circuncisão não feita por mão no despojo do corpo dos pecados da carne, a circuncisão de Cristo; Sepultados com ele no batismo, nele também ressuscitastes pela fé no poder de Deus, que o ressuscitou dentre os mortos.
Assim como a circuncisão era símbolo da inclusão na antiga aliança, o batismo tornou-se o símbolo da inclusão na nova aliança. As crianças, filhas dos israelitas, já eram incluídas, por ordem do próprio Deus, na aliança, mesmo sem poder escolher se queriam ou não, ser incluídas na aliança. Se as crianças eram incluídas na antiga aliança, não há razão para afirmar que elas estejam excluídas da nova, sendo que está firmada em maiores promessas. Hebreus 8:6  Mas agora alcançou ele ministério tanto mais excelente, quanto é mediador de uma melhor aliança que está confirmada em melhores promessas
Vale a pena citar o um trecho de um ótimo artigo do Reverendo John P. Sartelle, pastor da Independent Presbyterian Church in Memphis - TN  em que ele faz uma comparação bastante coerente entre a circuncisão e batismo:
  “Considere as seguintes três perguntas à luz dos capítulos precedentes:
  1. Quando uma pessoa cria no Deus de Abraão e confiava nEle no Antigo Testamento, o que acontecia? Ele era circuncidado.
  2. Qual era o símbolo externo que representava o coração limpo no Antigo Testamento? Circuncisão.
  3. Qual era o sinal externo que marcava a entrada de uma pessoa na comunidade de crentes do Antigo Testamento? Circuncisão.
 Agora, deixe-me fazer as mesmas perguntas substituindo as palavras "Antigo Testamento " por  " Novo Testamento ":
  1.  Quando uma pessoa cria no Deus de Abraão e confiava nEle no Novo Testamento, o que acontecia? Ele era batizado.
  2. Qual era o símbolo externo que representava o coração limpo no Novo Testamento? Batismo.
  3. Qual era o sinal externo que marcava a entrada de uma pessoa na comunidade de crentes do Novo Testamento? Batismo.” [1]
2. Crianças não podem ser batizadas porque não tem como se arrepender.

Esse argumento é bastante falho, pois geralmente confunde-se o batismo de João com o batismo cristão. Estamos tratando de duas instituições diferentes.  O batismo de João era um batismo temporário, que preparava as pessoas para a vinda do Messias, aquele que batizaria com o Espírito Santo e com fogo.  Tanto é que Paulo rebatizou pessoas que haviam recebido apenas o batismo de João Atos 19:1-5: E sucedeu que, enquanto Apolo estava em Corinto, Paulo, tendo passado por todas as regiões superiores, chegou a Éfeso; e achando ali alguns discípulos, Disse-lhes: Recebestes vós já o Espírito Santo quando crestes? E eles disseram-lhe: Nós nem ainda ouvimos que haja Espírito Santo.Perguntou-lhes, então: Em que sois batizados então? E eles disseram: No batismo João. Mas Paulo disse: Certamente João batizou com o batismo do arrependimento, dizendo ao povo que cresse no que após ele havia de vir, isto é, em Jesus Cristo. E os que ouviram foram batizados em nome do Senhor Jesus.  Portanto o batismo de arrependimento era o batismo de João e não o batismo cristão. O batismo cristão é a inclusão da pessoa na nova aliança e consequentemente na comunidade de fé. Pelo batismo uma pessoa se entrega a Cristo para ser seu discípulo, ou seja, aprender e praticar os ensinamentos do mestre e segui-lo pelo resto de sua vida. Assim também as crianças são entregues a Cristo pelo batismo, para desde cedo serem seus discípulos. Quando o ministro asperge água sobre (ou derrama, mergulha) o batizando em nome da Santíssima Trindade, ele está declarando que tal pessoa pertence ao povo de Deus. E o mesmo vale para as crianças, que segundo o próprio Senhor, já lhe pertencem.

3. O argumento da livre escolha

Um dos argumentos mais utilizado por pais que não querem batizar os filhos, geralmente utilizado para disfarçar sua relutância em aceitar o batismo infantil, é de que desejam que o filho tome sua própria decisão quando tiver entendimento. Não vejo como esse argumento pode ser coerente com pais que levam a sério o propósito de terem toda a sua casa a serviço do Senhor. Buscam escolher a melhor escola para os filhos, a melhor alimentação, as melhores roupas, os melhores médicos nos momentos de enfermidade, mas a religião, que é o principal querem que o filho escolha?  Isso é tão incoerente quando se negar a orar por um filho recém nascido que esteja enfermo porque ele não pediu a oração ou porque não tem consciência suficiente para crer nela.  Josué 24.15 eu e a minha casa serviremos ao SENHOR. E o batismo infantil se enquadra no principio desse versículo.  Quando alguém batiza seus filhos está dizendo: “Eu e a minha casa pertenceremos ao Senhor”.

4. A Bíblia não menciona batismos de crianças.

            Depois de expormos o conteúdo acima, é natural que surja  como objeção que na Bíblia não vemos nenhuma criança ser batizada, mas antes, somente pessoas que entendiam e criam no evangelho. Mas, será mesmo que isso é assim?  Primeiramente cabe considerar que os apóstolos com freqüência batizavam famílias inteiras. Como por exemplo Lídia e sua casa (Atos 16.15) e o carcereiro de Filipos e os seus (Atos 16.33). E um dado interessante: “A primeira versão do Novo Testamento, denominada Peshita Siríaca, publicada logo após a era apostólica, traduz At 16:15 da seguinte maneira : “Ela (Lídia) foi batizada e as crianças de sua casa[2]Se não se pode afirmar que tinha crianças entre eles, não também não se tem subsídios para se dizer o contrário. Porém, me chama atenção um detalhe no discurso de Pedro no dia de pentecostes. Atos 2, 38, 39:  E disse-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para perdão dos pecados; e recebereis o dom do Espírito Santo; Porque a promessa vos diz respeito a vós, a vossos filhos, e a todos os que estão longe, a tantos quantos Deus nosso Senhor chamar.
A Palavra grega aqui traduzida como: filhos é  teknia,. Que significa: filho pequeno ou simplesmente: crianças. Temos aqui mais uma evidencia clara de que o batismo de crianças é válido.

Conclusão

            Dificilmente um judeu piedoso do século I, aceitaria a idéia de firmar um pacto com Deus e não incluiria seus filhos nessa aliança.  O batismo infantil se harmoniza tanto com o significado do batismo, quanto com testemunhos bíblicos favoráveis a prática e também existe o testemunho histórico. Esse assunto, apesar das diversas interpretações que se desenvolveram sempre  foi um ponto comum e pacifico entre a a grande maioria dos cristãos na história. Tanto é que nesse ponto, até mesmo o herético Pelágio,  afirmou no Século IV:“Difama-se como se eu negasse o sacramento do Batismo às crianças. Jamais ouvir dizer, nem mesmo de um herético ímpio, que as crianças não devem ser batizadas. Pois não há ninguém tão ignorante a ponto de ter tal opinião”[3]. Imagino a reação dele se assistisse alguns pregadores que abundam nos canais de televisão, berrando frases do tipo: “ A Bíblia não ensina o batismo de crianças...!”  Bem antes dele, no século II, Justino Mártir já havia declarado: Cristãos de ambos os sexos, alguns de 60, outros de 70 anos de idade se tornaram discípulos pelo Batismo desde a infância”
            O batismo infantil tem sido alvo de muitas controvérsias. Eu poderia aqui citar outros documentos antigos, além de teólogos e reformadores. Mas creio que essas poucas linhas, servem para mostrar que temos respaldo Bíblico e Histórico para Batizar Crianças. Pois se as crianças, são cidadãs do Reino de Deus, conseqüentemente da igreja invisível, porque deveríamos excluí-las da igreja visível?





[1]SARTELLE, John P. http://www.ipcb.org.br/paisdevemsaber.html
[2]RODRIGO, Gecyone.  http://www.ejesus.com.br/exibe.asp?id=272
[3] RODRIGO, Gecyone.  http://www.ejesus.com.br/exibe.asp?id=272

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