Rev. Francisco Belvedere Neto
Tenho reparado
no meio metodista uma resistência grande de muitos pais em batizar os seus
filhos. Muitos dizem que preferem que os filhos “escolham” no futuro. Mas seria
isso uma posição coerente com a de pais cristãos? Na verdade o que está por
trás disso é o forte discurso anabatista do evangelicalismo brasileiro.
Classifico como “anabatista”, por utilizar os argumentos do grupo da reforma
radical que se opunha ao batismo infantil, negando a natureza sacramental do
batismo e afirmando que este era e apenas para os que crêem. Essa posição era
antagônica ao posicionamento dos principais reformadores que sempre
reconheceram ser bíblica e histórica a pratica do batismo infantil.
O fato é que a
postura dos que podemos assim chamar de “credobatistas”, ou seja, que só
aceitam o batismo de crentes (já que chamá-los de anabatistas seria um
anacronismo), é uma postura apologética e proselitista. Ou seja, além de
polemizarem e defenderem arduamente a questão, se empenham em tratar de
“converter” os outros ao seu ponto de vista. Muitos por
terem pouco ou nenhum conhecimento do assunto, acabam cedendo ou ficando
em dúvida. Vamos ver alguns argumentos
dos credobatistas contra o batismo infantil:
1. Crianças não podem ser batizadas porque não podem crer.
Esse argumento
é geralmente baseado em Marcos 16.16: Quem
crer e for batizado será salvo; quem, porém, não crer será condenadoQuem crer e
for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado.
Bem, se interpretarmos esse texto dessa
maneira, então teremos que chegar a conclusão de que todas as crianças que morrem
estão condenadas ao inferno, pois elas não têm condições de exercer fé pessoal
em Jesus como seu Senhor e Salvador pessoal. Então, alguém há de argumentar,
que está escrito em Lucas 18.16,17: Mas Jesus, chamando-os para si, disse:
Deixai vir a mim os meninos, e não os impeçais, porque dos tais é o reino de
Deus. Em verdade vos digo que, qualquer que não receber o reino de Deus como
menino, não entrará nele.
Por isso
mesmo, podemos e devemos batizar as crianças. Elas são mais dignas de receberem
o sacramento do batismo do que um adulto. Excluí-las do batismo pelo fato de
elas não crerem, implica em excluí-las da salvação também.
No antigo
testamento a circuncisão simbolizava uma aliança com Deus. Deus disse a Abraão:
Genesis. 17.10- 14 Esta é
a minha aliança, que guardareis entre mim e vós, e a tua descendência depois de
ti: Que todo o homem entre vós será circuncidado.
E circuncidareis a carne do vosso prepúcio; e isto será por sinal da
aliança entre mim e vós. O filho de oito dias, pois, será circuncidado, todo o
homem nas vossas gerações; o nascido na casa, e o comprado por dinheiro a
qualquer estrangeiro, que não for da tua descendência. Com efeito será
circuncidado o nascido em tua casa, e o comprado por teu dinheiro; e estará a
minha aliança na vossa carne por aliança perpétua. E o homem incircunciso, cuja
carne do prepúcio não estiver circuncidada, aquela alma será extirpada do seu
povo; quebrou a minha aliança.
Notemos que a
circuncisão era uma aliança que se fazia com Deus. E quem não se submetesse a
ela seria punido, por quebrar a aliança. É interessante notar o paralelo feito
entre a circuncisão e o batismo: Colossenses.
2.11,12: No qual também estais
circuncidados com a circuncisão não feita por mão no despojo do corpo dos
pecados da carne, a circuncisão de Cristo; Sepultados com ele no batismo, nele
também ressuscitastes pela fé no poder de Deus, que o ressuscitou dentre os mortos.
Assim como a
circuncisão era símbolo da inclusão na antiga aliança, o batismo tornou-se o
símbolo da inclusão na nova aliança. As crianças, filhas dos israelitas, já
eram incluídas, por ordem do próprio Deus, na aliança, mesmo sem poder escolher
se queriam ou não, ser incluídas na aliança. Se as crianças eram incluídas na
antiga aliança, não há razão para afirmar que elas estejam excluídas da nova,
sendo que está firmada em maiores promessas. Hebreus 8:6 Mas agora alcançou ele ministério tanto mais
excelente, quanto é mediador de uma melhor aliança que está confirmada em
melhores promessas
Vale a pena
citar o um trecho de um ótimo artigo do Reverendo John P. Sartelle, pastor da Independent
Presbyterian Church in Memphis - TN
em que ele faz uma comparação bastante coerente entre a circuncisão e
batismo:
“Considere as seguintes três perguntas à luz dos
capítulos precedentes:
- Quando uma pessoa cria no Deus de
Abraão e confiava nEle no Antigo Testamento, o que acontecia? Ele
era circuncidado.
- Qual era o símbolo externo que
representava o coração limpo no Antigo Testamento? Circuncisão.
- Qual era o sinal externo que
marcava a entrada de uma pessoa na comunidade de crentes do Antigo
Testamento? Circuncisão.
- Quando uma pessoa cria no Deus de Abraão
e confiava nEle no Novo Testamento, o que acontecia? Ele era
batizado.
- Qual era o símbolo externo que
representava o coração limpo no Novo Testamento? Batismo.
- Qual era o sinal externo que
marcava a entrada de uma pessoa na comunidade de crentes do Novo
Testamento? Batismo.” [1]
2. Crianças não podem ser batizadas porque
não tem como se arrepender.
Esse argumento é bastante falho, pois
geralmente confunde-se o batismo de João com o batismo cristão. Estamos
tratando de duas instituições diferentes.
O batismo de João era um batismo temporário, que preparava as pessoas
para a vinda do Messias, aquele que batizaria com o Espírito Santo e com fogo. Tanto é que Paulo rebatizou pessoas que haviam
recebido apenas o batismo de João Atos 19:1-5: E
sucedeu que, enquanto Apolo estava em Corinto, Paulo, tendo passado por todas
as regiões superiores, chegou a Éfeso; e achando ali alguns discípulos, Disse-lhes: Recebestes vós
já o Espírito Santo quando crestes? E eles disseram-lhe: Nós nem ainda ouvimos
que haja Espírito Santo.Perguntou-lhes, então: Em que sois batizados então? E
eles disseram: No batismo João. Mas Paulo disse: Certamente João batizou com o
batismo do arrependimento, dizendo ao povo que cresse no que após ele havia de
vir, isto é, em Jesus Cristo. E os que
ouviram foram batizados em nome do Senhor Jesus. Portanto o batismo de arrependimento era o batismo de João e
não o batismo cristão. O batismo cristão é a inclusão da pessoa na nova aliança
e consequentemente na comunidade de fé. Pelo batismo uma pessoa se entrega a
Cristo para ser seu discípulo, ou seja, aprender e praticar os ensinamentos do
mestre e segui-lo pelo resto de sua vida. Assim também as crianças são
entregues a Cristo pelo batismo, para desde cedo serem seus discípulos. Quando
o ministro asperge água sobre (ou derrama, mergulha) o batizando em nome da
Santíssima Trindade, ele está declarando que tal pessoa pertence ao povo de
Deus. E o mesmo vale para as crianças, que segundo o próprio Senhor, já lhe
pertencem.
3. O argumento da livre escolha
Um dos argumentos mais utilizado por
pais que não querem batizar os filhos, geralmente utilizado para disfarçar sua
relutância em aceitar o batismo infantil, é de que desejam que o filho tome sua
própria decisão quando tiver entendimento. Não vejo como esse argumento pode
ser coerente com pais que levam a sério o propósito de terem toda a sua casa a
serviço do Senhor. Buscam escolher a melhor escola para os filhos, a melhor
alimentação, as melhores roupas, os melhores médicos nos momentos de
enfermidade, mas a religião, que é o principal querem que o filho escolha? Isso é tão incoerente quando se negar a orar
por um filho recém nascido que esteja enfermo porque ele não pediu a oração ou
porque não tem consciência suficiente para crer nela. Josué
24.15 eu e a minha casa serviremos ao SENHOR. E o batismo infantil se
enquadra no principio desse versículo. Quando alguém batiza seus filhos está dizendo:
“Eu e a minha casa pertenceremos ao
Senhor”.
4. A Bíblia não menciona batismos de crianças.
Depois
de expormos o conteúdo acima, é natural que surja como objeção que na Bíblia não vemos nenhuma
criança ser batizada, mas antes, somente pessoas que entendiam e criam no
evangelho. Mas, será mesmo que isso é assim?
Primeiramente cabe considerar que os apóstolos com freqüência batizavam
famílias inteiras. Como por exemplo Lídia e sua casa (Atos 16.15) e o
carcereiro de Filipos e os seus (Atos 16.33). E um dado interessante: “A primeira versão do Novo Testamento,
denominada Peshita Siríaca, publicada logo após a era apostólica, traduz At
16:15 da seguinte maneira : “Ela (Lídia) foi batizada e as crianças de sua casa”[2]Se
não se pode afirmar que tinha crianças entre eles, não também não se tem
subsídios para se dizer o contrário. Porém, me chama atenção um detalhe no
discurso de Pedro no dia de pentecostes.
Atos 2, 38, 39: E
disse-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de
Jesus Cristo, para perdão dos pecados; e recebereis o dom do Espírito Santo; Porque
a promessa vos diz respeito a vós, a
vossos filhos, e a todos os que estão longe, a tantos quantos Deus nosso
Senhor chamar.
A Palavra grega aqui traduzida
como: filhos é teknia,. Que significa: filho pequeno ou simplesmente: crianças. Temos
aqui mais uma evidencia clara de que o batismo de crianças é válido.
Conclusão
Dificilmente um
judeu piedoso do século I, aceitaria a idéia de firmar um pacto com Deus e não
incluiria seus filhos nessa aliança. O
batismo infantil se harmoniza tanto com o significado do batismo, quanto com
testemunhos bíblicos favoráveis a prática e também existe o testemunho
histórico. Esse assunto, apesar das diversas interpretações que se desenvolveram
sempre foi um ponto comum e pacifico
entre a a grande maioria dos cristãos na história. Tanto é que nesse ponto, até
mesmo o herético Pelágio, afirmou no
Século IV:“Difama-se como se eu negasse o
sacramento do Batismo às crianças. Jamais ouvir dizer, nem mesmo de um herético
ímpio, que as crianças não devem ser batizadas. Pois não há ninguém tão
ignorante a ponto de ter tal opinião”[3]. Imagino
a reação dele se assistisse alguns pregadores que abundam nos canais de
televisão, berrando frases do tipo: “ A Bíblia não ensina o batismo de
crianças...!” Bem antes dele, no século
II, Justino Mártir já havia declarado: Cristãos
de ambos os sexos, alguns de 60, outros de 70 anos de idade se tornaram
discípulos pelo Batismo desde a infância”
O
batismo infantil tem sido alvo de muitas controvérsias. Eu poderia aqui citar
outros documentos antigos, além de teólogos e reformadores. Mas creio que essas
poucas linhas, servem para mostrar que temos respaldo Bíblico e Histórico para
Batizar Crianças. Pois se as crianças, são cidadãs do Reino de Deus,
conseqüentemente da igreja invisível, porque deveríamos excluí-las da igreja visível?
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